Aborto não sai de pauta na Assembléia

21-10-2010 12:35

Minha matéria no jornal O Estado

Mais uma vez o aborto foi o assunto dominante na Assembléia Legislativa. A discussão de ontem teve início quando Ronaldo Martins (PRB) fez discurso de protesto contra o que chamou de “boataria” a respeito de Dilma Rousseff.

“O PRB diz não aos boatos e às estratégias malévolas utilizadas para ganhar votos”, anunciou. “O apelo que faço é para que não envolvam os cristãos em boataria. Não fiquem fazendo picuinhas e dizendo que o presidente Lula é a favor do aborto, nem espalhem falsos e-mails dizendo que Dilma é a favor do aborto”.

O PRB, partido da base lulista, é ligado a Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus e defensor da legalização do aborto. Em vídeo que circula no YouTube, Macedo diz que

é preferível abortar do que ter a criança saudável, mas criando problemas para si, mendigando, comendo o pão que o diabo amassou e sendo nociva à sociedade”.

PNDH 3
Em reação ao pronunciamento de Martins, Fernando Hugo (PSDB) exibiu a revista Veja desta semana, cuja capa traz declarações da candidata petista acerca do aborto, e uma cópia do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) 3, “feito pelo PT e assinado pela Dilma”.

Referendado pela Casa Civil da então ministra Dilma no fim do ano passado, o PNDH 3 advoga “a aprovação do projeto de lei que descriminalize o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos”, como o parlamentar tucano fez questão de ler. O programa foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como plano de governo da petista.

Artur Bruno (PT) pediu a palavra. “Em nenhum momento a candidata Dilma está propondo mudança na legislação. Portanto, o que há é oportunismo, má fé, baixaria”, sustentou o petista. Ao que Hugo replicou: “Deputado Bruno, não fui eu que editei a revista. Foi a Dilma que disse, em 2007, que achava um absurdo o aborto não ser legalizado. Essa é uma frase da Dilma, e está lá no plano de vocês [o PNDH 3] a defesa da descriminalização. A Dilma assinou”.

“A DILMA É O ZÉ DIRCEU”
Logo outros deputados se envolveram na contenda, cada qual tomando um lado. “Sou católico apostólico romano, freqüento missa, sou médico de formação, contrário ao aborto por formação e convicção religiosa. Mas é muito pequena essa campanha sórdida que envolve religião”, opinou o governista Welington Landim (PSB).

Hugo não se impressionou. “A Dilma está dizendo que é mais cristã do que dom Paulo Evaristo Arns. Ela mente mais do que aquelas mulheres do interior que ao meio-dia estão na igreja e à noite no cabaré”. O tucano Cirilo Pimenta complementou: “Ao mesmo tempo em que a Dilma fala que não defendeu a legalização do aborto, o PT diz na televisão que o PSDB é contra o Bolsa Família, que fomos nós que começamos. A Dilma é o Zé Dirceu. É por isso que ela está caindo e vai perder a eleição”.

A VOLTA DA INQUISIÇÃO
Quando Artur Bruno voltou a falar, foi para anunciar o retorno da Santa Inquisição. “A Igreja Católica foi responsável por grandes avanços da humanidade, mas cometeu um grande erro: a Inquisição, a perseguição a todos aqueles que divergiam da posição oficial da Igreja. Neste momento, estão tentando trazer esse mesmo clima inquisitório ao nosso país”.

O petista citou até Osama bin Laden para condenar a “guerra religiosa” de que Dilma estaria sendo vítima. “Osama bin Laden estava, na visão dele, fazendo a guerra santa. Nós não podemos repetir esse clima de inquisição no nosso país. É lamentável que se use a religião para ganhar votos, sobretudo no Brasil. Aqui existe liberdade religiosa”.

Eximindo-se de esclarecer a posição do PT quanto ao aborto, Bruno voltou-se para o governo Fernando Henrique Cardoso, censurando, entre outras coisas, o “neoliberalismo”. Em sua viagem ao passado da política nacional, Bruno citou Fernando Collor de Mello como um mau presidente. Hoje Collor é aliado de Lula e Dilma, de quem é cabo eleitoral em Alagoas.

“O Bruno não esquece o FHC. Ele ainda não falou uma frase sobre a candidata do PT”, pilheriou Fernando Hugo. “FHC é o pai da estabilidade econômica. Já a Dilma é tão pobre de currículo que o Bruno passa 15 minutos lembrando o FHC”.

Para tirar o aborto do centro da discussão, Welington Landim e Nelson Martins (PT) entraram a enaltecer números do governo Lula. Hugo gracejou uma vez mais, lançando um apelo aos colegas. “Faz 15 minutos que discursam e não falam da Dilma, só falam do Lula. Me ligaram agora da Messejana perguntando se o Lula é candidato de novo. Vamos falar do nome dessa santa mulher!”

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Matéria de Kézya Diniz, TV Jangadeiro:

 

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