
O CHAMADO DAS PEDRAS
11-03-2011 09:49O CHAMADO DAS PEDRAS
A estrada está deserta. Tudo deserto. Num bramido de dor. Sozinha... Do perdido tempo. Volta...Volta...Volta... E os sinos das igrejas E as rolinhas fogo-pagou Vestida de cabelos brancos
Vou caminhando sozinha.
Ninguém me espera no caminho.
Ninguém acende a luz.
A velha candeia de azeite
de lá muito se apagou.
A longa caminhada.
A longa noite escura.
Ninguém me estende a mão.
E as mãos atiram pedras.
Sozinha...
Errada a estrada.
No frio, no escuro, no abandono.
Tateio em volta e procuro a luz.
Meus olhos estão fechados.
Meus olhos estão cegos.
Vêm do passado.
Num espasmo de agonia
Ouço um vagido de criança.
É meu filho que acaba de nascer.
Na estrada deserta,
Sempre a procurar
o perdido tempo que ficou pra trás.
Do passado tempo
escuto a voz das pedras:
E os morros abriam para mim
Imensos braços vegetais.
Que ouvia na distância
Diziam: Vem... Vem... Vem...
Das velhas cumeeiras:
Porque não voltou...
Porque não voltou...
E a água do rio que corria
Chamava...chamava...
Voltei sozinha à velha casa deserta.
(Meu Livro de Cordel, p.84, 8°ed., 1998)
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